Levantamento feito pela venture builder WBGI aponta os gargalos desse modelo de negócios
Para o mercado brasileiro, a produção agrícola vertical urbana, que teve um boom de investimentos em meados de 2021, não se mostrou tão competitiva quanto prometia. Focadas no mercado de hortaliças, gerando um preço maior para o consumidor final, e com altos custos de implantação e consumo de energia, as fazendas urbanas saíram da mira dos investidores e perderam espaço para a produção agrícola convencional, segundo o levantamento “Indoor Farming – o conceito por trás da moda”, feito pela venture builder WBGI.
Segundo Caio Rosateli, head de finanças e processos na WBGI, primeiramente, é importante ressaltar que essa modalidade nada mais é do que um sistema de hidroponiaaplicado aoambiente urbano, fazendo também o controle de aspectos como umidade, iluminação e temperatura. “Isso nos leva ao primeiro gargalo desse modelo de negócio, uma vez que o mesmo sistema de hidroponia pode ser aplicado com custos muito inferiores fazendo uso de uma estufa, por exemplo.”
De acordo com o estudo, esse modelo acaba inflando muito o custo de produção, uma vez que o próprio uso do sistema hidropônico convencional representa um aumento de aproximadamente cinco vezes nos custos quando comparado ao modelo convencional. “A produção indoor possui uma estrutura de custos ainda mais robusta, onde se gasta muito mais com energia, principalmente”, explica Pedro Forti, head de business intelligence na WGI.
Assim, é natural que o preço de venda desses produtos seja mais alto nas prateleiras de supermercados, além de hotéis, restaurantes, hortifrútis, e outros estabelecimentos. “Enquanto uma alface crespa comum pode ser encontrada por menos de R$ 4,00 no mercado, a mesma hortaliça orgânica chega a aproximadamente R$ 7,00. Uma alface orgânica cultivada no modelo de indoor farming, por sua vez, pode ser encontrada por R$ 14,00”, indica Rosateli.
Essa diferença nos preços mostra que esse tipo de produto ainda é pouco competitivo em relação ao que já temos no mercado, mesmo quando comparado com outros produtos orgânicos.
Em relação aos custos logísticos, a ideia de trazer o campo mais para perto da mesa parece tentadora no Brasil, mas no caso das hortaliças, é pouco relevante. Isso porque os produtores dehortaliças são, quase que em sua totalidade, pequenos produtores localizados próximos aos grandes centros consumidores desses produtos. “Isso faz com que seja muito fácil escoar essa produção e, mesmo que esse tipo de produto seja extremamente delicado, ainda assim a possível necessidade de utilização de veículos refrigerados para fazer o transporte não justifica o investimento em uma produção dentro das cidades”, pondera Forti.
Além disso, ainda de acordo com o levantamento da WBGI, trazer o campo à cidade não parece ser um diferencial tão interessante quando se trata do Brasil, onde não temos problema com área agricultável na comparação com países submetidos à escassez de recursos ou desequilíbrios climáticos, como nas regiões do Oriente Médio e da Europa, por exemplo.
Por outro lado, apesar dos gargalos apresentados no relatório, esse modelo ainda pode ser viável no país quando aplicado a cenáriosdecultivos específicos, viabilizando a produção por meio das especificidades da cultura produzida, por seu alto valor agregado ou até mesmo por causa das adversidades morfoclimáticas de alguma região.